Uma gigantesca máquina paranoica é alimentada diariamente pela
cultura midiática de estímulo à violência. A violência de sheherazades que
amarra em postes e espanca em praça pública; a violência de datenas, rezendes e
similares que “escracha” o pobre e cala diante da fome e do abandono; a
violência dos pastores que quer castrar o mundo enquanto se esbalda em uma
orgia de dízimos; e, principalmente, a violência de terno bem alinhado, cabelos
bem penteados e tom de voz sensato e profissional que escolhe a dedo o que deve
ou não ser mostrado no jornal que “todo mundo” assiste antes da novela.
E, receptiva a isso tudo, temos a nossa chamada elite - tão
acostumada a fazer vista grossa para tudo o que não interessa que seja
desvelado. Assim, diante das barbaridades de Cunha, optam pelo silêncio as
mesmas vozes que se ergueram para apoiar a micareta verde e amarela
promovida pela direita fascista e patrocinada pela grande mídia que, na avenida
Paulista, pedia impeachment, volta de militares torturadores e o fim da
corrupção, de Paulo Freire e do Fórum de SP.
Terceirizado, babando transgênicos pelos cantos da boca, o nosso cidadão de bem aplaude o encarceramento juvenil porque aprendeu a viver com
medo e ódio. Gente pervertida que adora postar fotos fofas dos filhos enquanto
se excita defendendo o assassinato de mais um “menor”.
Vontade de fugir disso tudo. Mas se for mesmo fugir, que
seja uma fuga deleuzeana, ativa, revolucionária, sempre à espreita, olhar
atento para qualquer arma que possa ser achada, descoberta ou inventada pelo
caminho.
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