quarta-feira, dezembro 20, 2006

Operação Tróia

Estou no meio de alguns trabalhos que tenho que terminar o quanto antes, por isso tanto tempo sem postar aqui. Abaixo está a introdução de um texto meu que trata de mídia, política, polícia, tráfico e assassinatos. Para ler o texto completo, que foi publicado na revista eletrônica do I CONECO, é só clicar no aqui.


Operação Tróia: celebridades, pseudo-eventos e morte

Introdução

Neste artigo, pretende-se examinar alguns aspectos da, muitas vezes tensa, relação entre mídia e força policial, no Rio de Janeiro. Isso será feito por meio da análise das notícias e artigos de opinião, publicados no jornal O Globo, que trataram da ação da polícia civil carioca da qual resultou a morte do traficante Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi.

O criminoso ganhou projeção na imprensa devido ao seu envolvimento com jogadores de futebol famosos e ao seu comportamento exibicionista (uso de armamentos dourados e muitas jóias), tornando-se “o traficante mais procurado do Rio”. As matérias que denunciavam conversas telefônicas entre as celebridades esportivas e Bem-Te-Vi foram publicadas na revista Isto É em agosto de 2005; cerca de dois meses depois, na madrugada de 29 de outubro, a polícia executou a chamada Operação Tróia matando o traficante, que comandava o narcotráfico na favela da Rocinha.

A principal hipótese trabalhada aqui será a de que algumas ações policiais têm como principal objetivo sua aparição na imprensa. Isso serviria para construir uma imagem pública de eficiência do Estado, na tentativa de compensar suas dificuldades em combater a violência urbana. Uma imagem positiva para se contrapor à realidade negativa. Um artifício espetacular para desviar nossa atenção da inépcia do poder público em lidar com a realidade dos problemas sociais.

(...)


(clique para ler o texto na íntegra)

(Muitos outros textos que abordam diferentes temáticas ligadas à mídia podem ser encontrados na aqui)

sábado, novembro 11, 2006

Apenas mais um dia nesta terra estranha




Na rua, uma velha, um mendigo, um tiro, um berro, um choro, um sorriso. Ou:

- Dá um real vó...

- Não sou sua avó, seu porco, seu nojento...

- Vai se foder ô velha! Por que você ta me xingando? E só pedi a porra do dinheiro!

...Um tiro...

Haaaaaaaaaaaaaaaaaa - um grito.

- Isso é pra você aprender a não importunar as pessoas de bem, seu bandido desgraçado! Seu lixo!

- Hei, aquele cara atirou na velhinha! Deve ser assalto...

- Não. Foi a senhora que atirou na mão do mendigo. Acho até que mirou na cabeça, mas ele pôs a mão na frente...

- Foi tentativa de assalto, só pode! É bom pra esses putos aprenderem a nos deixar em paz.

- Mas o cara só pediu dinheiro e a velha deu um tiro nele!

- Merda nenhuma. Só pode ter sido assalto.

- Vamos, se todas sairmos juntas e ficarmos em volta da igreja eles terão que parar de atirar!

- Mas mamãe, a senhora está muito cansada, fique aqui dentro.

- Quieta menina! Vamos, todas unidas. Eles não irão atirar.

- Concordo! A imprensa está aqui. Eles não poderão atirar em mulheres desarmadas.

- Não se afastem umas das outras. Deixem que vejam nossas mãos. Que fique claro que não temos armas!

- Vamos, vamos. Já estão todas saindo...

- Vamos...

- Alá seja louvado!

- Alá nos proteja!

...

- Mamãe, eles não estão atirando mais. Olhe lá, os soldados israelenses pararam de atirar.

- Alá seja louvado!

- Todas juntas, continuem andando. Somos a esperança dos homens que estão dentro da igreja.

- Alá! Alá é grande!

...Tum... Tum... Tum-Tum-Tum-Tum-Tum-Tum-Tum-Tum...

- Estão atirando em nós!

- Acertaram duas! Lá no chão, quem são as duas caídas?! Alá! Oh Alá! Alá! Protejo-nos Alá!

- O sangue... o sangue.

- Mataram, eles as mataram.

- Corram.

- Oh Alá... O que eles fizeram? Somos apenas mulheres... Oh Alá...

- Cadê a outra garrafa de uísque? Você quer, por acaso, deixar minhas convidadas de garganta seca?

- Claro que não. Já vou buscar doutor. É que aquela morena mais magrinha estava chorando e eu estava tentando acalmá-la...

- Traga a garrafa de uísque e mande esta moreninha vir até aqui.

(...)

- Qual a sua graça filha?

- ...

- Pode falar, ninguém vai fazer nenhuma maldade com você e com suas amigas. Qual o seu nome?

- Adriana.

- Que nome bonito. Quer um gole de uísque?

- ...

- Beba, vai se sentir melhor depois que beber um pouco.

(...)

- Adriana, tire a blusa...

- Já disse para tirar a roupa sua piranha! Toma pra aprender a me obedecer sua vagabundinha!

(...)

- Doutor, calma, vai matar a menina deste jeito! É só uma criança, já chega doutor! Pare de bater na menina, por favor...

(...)

- Feche a porta e saia daqui, só volte quando eu mandar! Ah... mais uma coisinha. Se me interromper mais uma vez, juro que tiro seus filhos do colégio particular e demito você e sua esposa... Agora vá! Se ligarem pro meu gabinete diga que estou em uma reunião muito importante!

segunda-feira, outubro 09, 2006

A internação



- Assine este documento para que possamos iniciar seu tratamento - disse o burocrata, estendendo uma folha de papel e uma caneta ao recém chegado.

- Mas... mas aqui diz que levarei chicotadas, para só depois poder ser internado!

- Sim, isso mesmo. Por favor, assine à frente de onde marquei com um X.

- Espere um pouco, que loucura é essa? Mandam-me aqui para ser tratado de minha doença e serei chicoteado? E ainda assino um papel concordando com isso?

- Exatamente senhor. Aqui precisamos ter tudo documentado. Esta é uma instituição séria e devemos prestar contas. Por favor, assine para que possamos efetuar sua internação.

- Isso está errado! O médico... doutor Pinho, não é esse o nome? Quero falar com o médico!

- Claro! Falar com o médico é a próxima etapa do procedimento padrão de internação. Você terá uma consulta inicial na qual poderá expor suas dúvidas em relação ao tratamento, mas antes precisa assinar o documento. Somente pacientes oficialmente inscritos podem ser atendidos pelo doutor Pinho.

- Mas se eu assinar vocês irão me chicotear!

- Exatamente!

- Mas eu estou doente, preciso é de tratamento! Não posso ser chicoteado...

- Enquanto não assinar o documento não poderá mesmo, por isso peço que assine logo. Dentro de quarenta e oito minutos se encerrará meu expediente e gostaria de poder arrumar ainda algumas fichas hoje, antes de terminar meu turno. Depois de amanhã será feriado, como o senhor deve saber, e pretendo viajar. Vou ao campo, sabe? Observar pássaros. É um passatempo admirável...

- Isto é uma insanidade! Estou falando do meu tratamento e você vem me falar de passeios pelo campo!

- Exatamente senhor. Preciso que assine logo sua guia de internação para que eu possa adiantar meu serviço. Se deixar todas essas fichas assim em desordem terei que fazer hora extra amanhã e sempre que fico trabalhando por mais tempo do que estou acostumado me dá uma enxaqueca terrível durante a noite. Como poderei observar os pássaros se tiver passado a noite anterior em claro?

- Pelo amor de Deus, quero saber do meu tratamento! Quero saber que história é essa de chicotadas!

- O senhor não fará tratamento algum sem antes assinar este documento à sua frente. E quanto às chicotadas, acredito já ter deixado bem claro que elas também dependem da sua assinatura. Então, por favor, assine o documento...

segunda-feira, setembro 11, 2006

Lavoura Arcaica

Alguns acontecimentos são capazes de nos trazer ar fresco aos pulmões quando tudo levava a acreditarmos que o sufocamento era certo. Um destes acontecimentos me atingiu no peito e na cabeça com muita força; foi um impacto revigorante... Um filme... Classifico-o como acontecimento, pois é mais do que um objeto/obra, é muito mais do que o que se costuma chamar de cinema. Possui aura, e sobrevive em nós após o fim da projeção.

O diretor Luiz Fernando Carvalho conseguiu transpor para a tela o texto denso e incrivelmente belo de Raduan Nassar. Em cima da arte escrita, criou arte imagética e sonora. Dizer que foi feita uma excelente adaptação do livro para o filme seria injustiça com a equipe do segundo, que deu a luz a uma nova obra artística - não fizeram, apenas, uma mera transposição técnica competente.

Estou atrasado em minha crítica, que deveria ter sido escrita em 2001, ano de lançamento do filme. Mas só tive contato com o mesmo ontem à noite. Esta é a vantagem da arte verdadeira e imperecível, que não se acaba no momento do consumo – pois não se deixa consumir: anos após seu lançamento, continua tocando mentes e enchendo pulmões de ar fresco.





Ficha Técnica
Título Original: Lavoura Arcaica
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 163 minutos
Ano de Lançamento (Brasil):
2001
Site Oficial: www.lavouraarcaica.com.br
Estúdio: VideoFilmes
Distribuição: Riofilme
Direção: Luiz Fernando Carvalho
Roteiro: Luiz Fernando Carvalho
Produção: Luiz Fernando Carvalho
Música: Marco Antônio Guimarães
Fotografia: Walter Carvalho
Direção de Arte: Yurika Yamasaki
Figurino: Beth Filipecki



seta3.gif (99 bytes) Elenco
Raul Cortez
Selton Mello
Juliana Carneiro da Cunha
Leonardo Medeiros
Mônica Nassif
Christiana Kalache
Caio Blat
Renata Rizek
Simone Spoladore
Pablo César Câncio
Leda Samara Antunes





THORPO

domingo, agosto 13, 2006

Neoniilismo

"Basta se dar conta de sua própria nulidade, subscrever a derrota - e já estamos integrados." (Adorno e Horkheimer. Dialética do esclarecimento)


Após uma relativamente longa pausa, volto ao blog. O problema não é a falta de temas, mas o oposto. Estou sem paz de espírito para escrever algo que não fosse um ataque, porém são tantos os alvos potenciais que fica fácil se perder. Outra dificuldade é a sensação de impotência: De que adianta um golpe quando sabemos que sua força não será suficiente para causar qualquer impacto? Este, aliás, é um dos sentimentos que mais impossibilitam a ação, e mesmo o pensamento

Vivemos tempos de pensamento único. Só que sob o disfarce de uma época de heterogeneidades de fluxos de idéias e saberes. A contradição é que o pensamento único coopta estas correntes diferenciadas de idéias e as enquadra em um de seus subgrupos. A contracultura se torna pop, o alternativo vira segmento lucrativo da indústria. Os que conseguem manter-se menos contaminados pelas idéias dominantes, se tornam outsiders, figuras periféricas vistas como párias, loucos, incompetentes, improdutivos, inadequados, irrelevantes.

Assim nasce a sensação de impotência frente a um mundo que permanece impassível aos nossos protestos, às nossas críticas, ao nosso inconformismo. Sendo assim, nossa revolta vai sendo abortada antes de tomar forma. Não chegamos a qualquer ação contestatória por não conseguirmos, muitas vezes, nem mesmo formularmos pensamentos de contestação. O desânimo nos atinge o peito e as potencialidades de idéias livres são sufocadas. As melhores mentes e os espíritos mais sensíveis de nosso tempo são empurrados para um neoniilismo, e este é um terreno instável e perigoso; berço da violência dirigida ao próximo e a si mesmo.

terça-feira, maio 23, 2006

O monge


-Senhor, a próxima cela oferece um belo exemplo de como a solidão e a contemplação podem levar um homem a Deus! – falou o magro monge de olhos vivos enquanto apressava os passos.

De uma pequena abertura, coberta por uma espécie de véu metálico, via-se o vulto de um homem sentado de costas para a porta e de frente para a parede oposta.

- Este é o irmão Schultz. Há quase uma década chegou ao mosteiro enviado pelos pais. Era um jovem de corpo forte, mas com a mente contaminada por valores mundanos. Um hedonista. Após muitas conversas reservadas com o abade, finalmente percebeu que os demônios o rodearam e manipularam por toda a vida. Passou cinco anos em isolamento completo e enfrentou os espíritos malignos com todo o poder da alma...

- Espere um pouco. Agora que meus olhos se acostumaram à falta de luz, percebo que este homem tem o corpo todo marcado por cicatrizes. O que lhe aconteceu? Porque suas mãos estão neste estado? Porque lhe falta um pedaço da orelha?

Como já esperava pela pergunta, o magro monge de olhos vivos não conseguiu esconder um leve sorriso enquanto a respondia ao rico comerciante que tantas benfeitorias já havia patrocinado àquele mosteiro:

- Foi muito difícil para ele saber onde acabava o mundo físico e começava o espiritual. Ele próprio se feriu desta maneira. Socava as paredes quando nela enxergava um demônio, tentava arrancá-los à unha quando não saiam por orações. Mas no final venceu a batalha. Hoje há monges daqui que chegam a dizer que ele um dia será reconhecido como um santo...

- Por favor, abra a porta. Gostaria de conversar com ele a sós...

- Desculpe-me senhor, isso seria impossível – a voz do magro monge saiu fraca e tremida.

- Quero saber o porquê desta impossibilidade?

- Ele não mais pode falar. Arrancou a própria língua para que nunca mais viesse a proferir uma blasfêmia...

O maior benfeitor do mosteiro interrompeu abruptamente sua visita e retirou-se sem mais nada dizer. Quando a carruagem chegou a sua casa, mandou chamar um de seus empregados e ordenou:

- Nesta noite, suba a colina com dois ajudantes. Quando chegar ao portão do mosteiro, arrebente as trancas e entre. Espalhe querosene por toda parte e ponha fogo. Mas antes disso, procure o abade e arranque-lhe a cabeça. Mande os seus dois assistentes ficarem do lado de fora e instrua-os para que atirem em qualquer monge que tente fugir de seu encontro com Deus.

E assim foi rompida uma próspera relação entre igreja e comércio, ao menos naquela pequena cidade.

segunda-feira, maio 22, 2006

Do mito à utopia chegamos ao vazio... mas resta a esperança da pandemia



Na antiguidade, tínhamos os heróis - fundadores da realidade por meio do mito. Passado o tempo, com o fortalecimento da ciência, jogamos a mitologia para o lado e miramos, com nossos olhares positivistas e admirados, o futuro utópico. Os heróis, que do passado definiam nossas vidas dizendo quem éramos, foram enterrados pela razão. A razão, apaixonada pela crença em seu próprio poder, projetou no futuro científico o sonho de um mundo de progresso e desenvolvimento.
O tempo (como era de se esperar) passou e com isso veio a decepção. Decepção de vermos que nossa política não acompanhava nossa ciência, que nosso egoísmo continuava tão brutal como nos tempos obscuros. Tecnologia não trouxe menos carga de trabalho, mas sim desemprego. A otimização dos meios de produção não acabou com a desigualdade, mas criou novos faraós. Nasceram impérios com base no suor e na fome da mão-de-obra vinda do campo e recém-transformada em massa. Massa esta, que um dia foi vista como germe de uma possível revolução. Revolução abortada por seus líderes que (como hoje parece ser óbvio que aconteceria, mas que na época foi triste decepção e traição) se enamoraram pelo poder, tornando-o totalitário e terrível. Outra dificuldade para a sonhada revolução foi impossibilidade de transformar massa em conjunto de indivíduos, em força intelectual e física contra um império que se fez gostar disfarçando-se de democracia.
O sistema enfraqueceu a possibilidade de revolta, não com a mão pesada da ditadura, mas com a sedução do consumo. O ter muito facilmente substituiu o ser. O ser não mais conta. O vazio da sobrevivência tomou o lugar do que um dia foi utopia.
Hoje, sem mitos do passado ou utopias do futuro, o homem já nasce cínico. Afunda (pensando flutuar) no vácuo que se tornou essa existência sem fundamento e sem projeção. Vida, dita pós-moderna, sem história (que lhe dê bases de sustentação) e sem esperança (que gere força e possibilidade de ação). Neste limbo, nos distraímos cuidando de sobreviver e desistimos de lutar por não sabermos como.
Mas quem sabe ainda exista esperança. Talvez ainda sem forma definida, mas adivinhada ou imaginada porque sentida ou, ao menos, sonhada (e para nós que até o parágrafo anterior tínhamos o nada, isso já é força!). A esperança é que alguns ainda insistam em pensar. Alguns poucos teimosos se recusam a abrir mão do direito que elaborar novas questões ou de dar voz a antigas. Enquanto houver sussurros e/ou gritos dissonantes há possibilidade de algo que não sabemos o que é, mas que só por não ser senso-comum talvez já valha a pena. Por isso, não vamos subestimar o poder de uma conversa entre amigos inconformados, mesmo que a principio ela pareça (ou mesmo seja) somente catarse. Temos que acreditar na possibilidade de contágio. Não seria assim tão surpreendente se as vozes dos inconformados um dia se multiplicassem, pois antes disso, outras epidemias e pandemias já existiram e sabemos dos estragos que elas podem fazer por mais forte que o sistema imunológico do organismo atingido fosse considerado até então.

O 607 balança sob 35 graus



35 graus, sábado, duas e meia da tarde


O 607 balança, treme e pula no ritmo ditado por um asfalto deformado pelo sol carioca. O ônibus pára no ponto, a fila de pessoas que embarcam pára na roleta. O cobrador -um senhor negro, desdentado, cabelos grisalhos- dorme. Boca semi-aberta, corpo pendente, quase um bambu ao vento. Parece que está colado ao banco, caso contrário cairia. A primeira da fila, menina nova, fica sem ação: parece não saber se passa pela roleta ou espera o senhor despertar. Não tem coragem de acordá-lo, envergonha-se por ele. A fila a pressiona, as pessoas começam a reclamar. Um garoto de uns 15 anos toma a frente, mas também se detém em frente à roleta e o cobrador continua em seus sonhos. Por um momento, todos no ônibus olham para o pobre preto velho, torto, como que pedindo –em silêncio- que ele acorde. Finalmente o rapaz o cutuca na perna e, de muito longe, o cobrador volta ao ônibus da linha 607. Sorrindo sem graça, pedindo desculpas com o olhar, o velho recebe-o-dinheiro-dos-passageiros-faz-as-contas-devolve-o-troco, repetidamente, repetidamente, repetidamente... Quando o último passa, seus olhos se fecham e de forma extremamente rápida ele volta a dormir. 35 graus, sábado, duas horas e quarenta e um minutos da tarde. O 607 balança, treme e pula no ritmo ditado por um asfalto deformado pelo sol carioca. O cobrador, um senhor negro, desdentado, cabelos grisalhos, dorme. Boca semi-aberta, corpo pendente, quase um bambu ao vento. Parece que está colado ao banco, caso contrário cairia...