As estantes de livros do meu pai têm uma despojada e bonita aura
- no sentido bejaminiano - e percorrer os volumes com o olhar me faz quase
esquecer que ele não está mais aqui. Ler os livros é como retomar velhas
conversas e, algumas vezes, perceber novos ângulos da personalidade de quem por
tanto tempo foi o meu maior amigo. E entre as páginas manchadas pelo tempo,
sempre se encontram fragmentos de quem ele foi e, como um arqueólogo de mim
mesmo, tento reescrever em silêncio a história.
terça-feira, novembro 17, 2015
quarta-feira, julho 08, 2015
A gigantesca máquina paranoica
Uma gigantesca máquina paranoica é alimentada diariamente pela
cultura midiática de estímulo à violência. A violência de sheherazades que
amarra em postes e espanca em praça pública; a violência de datenas, rezendes e
similares que “escracha” o pobre e cala diante da fome e do abandono; a
violência dos pastores que quer castrar o mundo enquanto se esbalda em uma
orgia de dízimos; e, principalmente, a violência de terno bem alinhado, cabelos
bem penteados e tom de voz sensato e profissional que escolhe a dedo o que deve
ou não ser mostrado no jornal que “todo mundo” assiste antes da novela.
E, receptiva a isso tudo, temos a nossa chamada elite - tão
acostumada a fazer vista grossa para tudo o que não interessa que seja
desvelado. Assim, diante das barbaridades de Cunha, optam pelo silêncio as
mesmas vozes que se ergueram para apoiar a micareta verde e amarela
promovida pela direita fascista e patrocinada pela grande mídia que, na avenida
Paulista, pedia impeachment, volta de militares torturadores e o fim da
corrupção, de Paulo Freire e do Fórum de SP.
Terceirizado, babando transgênicos pelos cantos da boca, o nosso cidadão de bem aplaude o encarceramento juvenil porque aprendeu a viver com
medo e ódio. Gente pervertida que adora postar fotos fofas dos filhos enquanto
se excita defendendo o assassinato de mais um “menor”.
Vontade de fugir disso tudo. Mas se for mesmo fugir, que
seja uma fuga deleuzeana, ativa, revolucionária, sempre à espreita, olhar
atento para qualquer arma que possa ser achada, descoberta ou inventada pelo
caminho.
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quinta-feira, abril 09, 2015
Mas já é tarde, eleitor da direita (ou Eduardo Alves da Costa e Brecht mandam um abraço)
Primeiro, eles ridicularizam
as mulheres
Deixam escorrer pelo
canto da boca babada o termo “feminazi”
E dizem que somente algumas
delas não merecem ser estupradas
Mas não me importei
com isso
Eu não era mulher
Em seguida, vociferam
contra os gays
Dizem que não podem constituir
uma família
Mas não me importei
com isso
Eu também não era gay
Depois atacam os
miseráveis
Acusam todos de
vagabundagem e tramam contra as políticas sociais
Mas não me importei
com isso
Porque eu não sou
miserável
Agora estão levando
todos os meus direitos trabalhistas
Mas já é tarde
Como eu não me
importei com ninguém
Ninguém se importa
comigo
terça-feira, março 17, 2015
A Marcha da Confusão
Domingo, a classe
média marcha com a “elite” para brincar de elitismo
Segunda, volta a
trabalhar, porque alguém tem que pagar
Carecas do subúrbio,
tão arianos quanto Lampião,
Dão o tom de radicalismo para as câmeras
Dão o tom de radicalismo para as câmeras
Enquanto senhoras
sorriem cheias de dentes, de ódio, de saudades
Saudades de um tempo
que nunca entenderam
Malabaristas do sinal
Retirem-se
A festa da democracia
não tem lugar pra vocês
Malabaristas
matemáticos da PM
Luz, câmera, ação
- Olá, boa tarde! A
manifestação segue pacífica. A família brasileira...
- Queimem Paulo
Freire!
- Quem?
- Não sei. Um
bolivariano qualquer que quer tirar nossa liberdade!
- Queimem Paulo
Freire!
Foto: manifestação de 20 de junho de 2013 na Av. Presidente Vargas, Rio de Janeiro. Thomás RPO - fotos.trpo@gmail.com |
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