“Aquelas poucas notas serviriam pra exorcizar toda humilhação. Com as mãos irritantemente tremendo, tirou do bolso o pequeno maço e o estendeu para que ela o tomasse.”
“- Po... po... pode conferir, tá... tá tudo aí. – Que raiva que ele sentia. Tinha ensaiado tanto essa curta frase e agora gaguejava desse jeito!”
“Uma, duas, três... estava realmente tudo ali. O valor combinado. Sentiu um certo orgulho depois que ela conferiu o dinheiro e o guardou na bolsa. Estava agora um pouco mais confiante. Ela precisava de seu dinheiro. Pouco mais de um minuto após ele tirar as calças, tudo estava acabado. Ela se levantou, vestiu a calcinha e, sem que uma palavra saísse de sua boca ou expressão dominasse sua face, saiu do quarto.”
“Um misto de satisfação e medo o tomou. Vestiu as calças e apressadamente também saiu do quarto e desceu as escadas em direção à rua. Sentia-se forte, poderoso. Aquela mulher linda, aparentemente intocável para um garoto de treze anos, havia trepado com ele... bastou um punhado de dinheiro. Aquelas garotinhas que o desprezavam não chegavam aos pés dela. E daí que seus colegas tinham namoradas e ele não? Nenhuma tinha o corpo tão belo quanto o da vadia que acabara de foder.”
“Ali, naquele quarto, entendeu o que era preciso para nunca mais se sentir ridículo - teria que ganhar bastante dinheiro. Quanto mais, melhor. E toda sua vida foi dedicada a isso. Estudou para o vestibular pensado na grana que ganharia; acordou cedo para ir ao escritório, dia após dia, calculando quanto receberia pelas férias vendidas; fez e rompeu amizades de acordo com o lucro que imaginasse obter ou perder com elas; casar-se-ia por dinheiro se tivesse qualquer atrativo além de seu próprio dinheiro, mas não conseguindo atrair mulher alguma com posses iguais ou superiores às suas, casou-se por covardia mesmo, medo de envelhecer sozinho.”
“Quando chegou aos quarenta, percebeu que estava bebendo demais, que era horrível acordar para ir trabalhar, que sua esposa era uma estranha e seu filho um pequeno idiota... que um segundo após gozar na cara de uma nova puta, tudo perdia o sentido e chegava a sentir falta de ar, como se a vida pudesse ser perdida assim, por descuido, por não ter respirado da forma certa. Tinha medo que roubassem seu carro, via em cada moleque ‘malabarista de sinal’ ou vendedor de balas um potencial assassino, começou a beber pra poder ir trabalhar. Foi ao psiquiatra e pediu:”
“- Um pouco de paz, por favor! Eu pago!”
“Pequenos comprimidos que pelo peso e custo valiam, talvez, mais que ouro. Engolia-os conforme o psiquiatra indicara e as coisas melhoraram: sorria sem entender o porquê de fazê-lo, tremia menos e não tinha mais tanto nojo da esposa nem ódio do filho.”
“O que fazer de sua vida aos 45 anos? Comprou uma Harley e algumas jaquetas de couro, pagou putas mais caras, chegou a tomar coragem pra assediar algumas mulheres mais novas sem pagar diretamente para possuí-las (um jantar, uma viagem, uns presentinhos, apenas isso, nada em “cash”!), mas sempre que tentava se aproximar de alguma mulher mais interessante ou inteligente era tratado como o garotinho ridículo que julgava ter deixado de ser há tanto tempo. Isso dava uma angústia tremenda, mas nada que mais comprimidos, putas caras e álcool não dessem um jeito.”
“Com a idade, somou um pequeno comprimido azul aos que ingeria diariamente e, com isso, orgulhava-se de ao menos uma vez por semana comer uma garotinha com menos de 25 anos de idade. Um ano após se aposentar, teve um derrame. Nunca mais foi o mesmo. Mas o que o matou realmente foi aquela queda ao tropeçar na calçada em frente de casa, na manhã de segunda-feira.”
“Espero que perdoem o tom literário que usei, achei que tornaria tudo mais leve e fácil. Enfim, termino aqui essa breve biografia de um homem que podemos dizer que foi bem-sucedido. Ganhou todo o dinheiro que precisou para pagar pelo prazer de esquecer que nunca deixou de ser o garotinho assustado e covarde daquela fatídica tarde quando pagou por sua primeira mulher.” – Ao proferir essas últimas palavras, o homem magro, barbado e com olhos cheios de ódio e lágrimas, encarou o pequeno público: sua mãe, com o rosto repuxado pelo botox e um leve sorriso nos lábios; três casais de tios com expressões que variavam do susto ao desprezo; dois velhos colegas de chope de seu pai, que pareciam raivosos e surpresos; e um pequeno cachorro que se coçava indiferente ao enterro e ao discurso que um filho fazia em homenagem ao seu recém-falecido pai, antes que jogassem as primeiras pás de terra sobre o caro e luxuoso caixão.
2 comentários:
Rascante!
adiantei o teu aí Foucault, adianta o meu aí...
um forte abraço
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