Ingênuos que lêem Foucault
Heróis que empalam garotos
Toda ajuda é hipócrita
Tortura é a solução
Morte à alteridade
Aplausos histéricos à autoridade
Dos caminhos o mais curto,
o mais fácil.
Fácil?
Desde que não atrapalhe o trânsito
e que não manche de sangue
os nossos sapatos, calçadas e filhos.
E desde que não perturbe nossas refeições.
Não nos embrulhe os estômagos
com a desagradável visão desses
pretos,
pobres,
sujos e maus
garotos estraçalhados.
Quem somos nós?
Pretensa elite que goza o mundo
e que cheia de medo
assina cheques, contratos e penas.
Elite que, cheia de dentes, berra:
Paz!
Justiça!
Honra!
Basta!
Basta de tiros em nossos quintais,
de mendigos em nossas calçadas,
de malabaristas em nossas esquinas.
Paz
no asfalto
na escola
no shopping.
Paz, no morro, engatilhada
Cano ainda quente
sujo de saliva e medo.
Pobreza pacificada,
silenciada até o próximo carnaval.
Salve a liberdade burguesa,
a invisibilidade do outro,
os gritos que não descem o morro!
Um viva aos novos heróis da pátria
com seus uniformes negros!
Carrascos com carteiras assinadas.
Durmamos em paz
e deixemos pra eles a honrada missão
da manutenção desse nosso gozo infindável...