Após uma relativamente longa pausa, volto ao blog. O problema não é a falta de temas, mas o oposto. Estou sem paz de espírito para escrever algo que não fosse um ataque, porém são tantos os alvos potenciais que fica fácil se perder. Outra dificuldade é a sensação de impotência: De que adianta um golpe quando sabemos que sua força não será suficiente para causar qualquer impacto? Este, aliás, é um dos sentimentos que mais impossibilitam a ação, e mesmo o pensamento
Vivemos tempos de pensamento único. Só que sob o disfarce de uma época de heterogeneidades de fluxos de idéias e saberes. A contradição é que o pensamento único coopta estas correntes diferenciadas de idéias e as enquadra em um de seus subgrupos. A contracultura se torna pop, o alternativo vira segmento lucrativo da indústria. Os que conseguem manter-se menos contaminados pelas idéias dominantes, se tornam outsiders, figuras periféricas vistas como párias, loucos, incompetentes, improdutivos, inadequados, irrelevantes.
Assim nasce a sensação de impotência frente a um mundo que permanece impassível aos nossos protestos, às nossas críticas, ao nosso inconformismo. Sendo assim, nossa revolta vai sendo abortada antes de tomar forma. Não chegamos a qualquer ação contestatória por não conseguirmos, muitas vezes, nem mesmo formularmos pensamentos de contestação. O desânimo nos atinge o peito e as potencialidades de idéias livres são sufocadas. As melhores mentes e os espíritos mais sensíveis de nosso tempo são empurrados para um neoniilismo, e este é um terreno instável e perigoso; berço da violência dirigida ao próximo e a si mesmo.
6 comentários:
O pensamento único é o espírito do capitalismo, da promoção sistemática de tudo, da atribuição de um pérfido valor de mercado a nós, seres humanos. Objetos passam a valer mais q pessoas. Como vc disse precisamente "os que conseguem manter-se menos contaminados pelas idéias dominantes, se tornam outsiders, figuras periféricas vistas como párias, loucos, incompetentes, improdutivos, inadequados, irrelevantes". Sim, isso é verdade. Precisamos construir mecanismos de defesa para não vestir-mos essa pesada carapuça. Um deles é não incorporar, ao nosso discurso, a própria lógica desse sistema que é contrária às nossas escolhas e ao nosso caminho no mundo. O discurso dominante, da espetacularização publicitária, nos oprime com seus estímulos imagéticos, seus apelos orgânicos ao nosso desejo, ao sonho compartilhado construído pelo imaginário social, de poder e consumo, liberdade plena, de uma vida de caçadores de emoções, colecionadores de experiências, de estilos, numa entrega quase transcendental à mais pura e imediata imanência das coisas, dos objetos. As pessoas são isso hoje,as relações humanas se reduziram à uma auto-promoção estúpida, um modus operandi que tem na outra face do processo uma alienação triste, uma entrega à degradação do espírito. Precisamos dizer "não" a essa culpa, a essa moral ridícula que fez o marketing comercial colonizar até o espírito das pessoas. Ter nossos princípios e construir um caminho verdadeiro, desprovido desse idealismo infantil. Conheço pessoas que pagam um preço alto por se alienarem da crítica, por aceitarem esse caminho da escravidão corporativa. Tem dinheiro e consomem, mas são desinteressantes, vazias, caladas, medrosas. Sem esse emprego não são nada, dedicam a vida a esse objetivo em que nunca pensaram direito. O importante, mais q sermos felizes, é termos vidas interessantes. Pode-se argumentar que o âmbito acadêmico seja tão repulsivo, nas suas relações, quando às relações corporativas. Pode ser. Mas ao menos, quando estamos em sala de aula ou em casa debruçados sobre alguma leitura, não estamos pensando em conseguir uma fatia maior do mercado, ou numa produtividade maior; às vezes estamos pensando na humanidade, em coisas nobres e valiosas, que a maioria nem sequer imagina. Isso nos faz ricos, de uma outra maneira. Se por trás tem a bolsa, o CNPq, a burocracia, o desejo de poder, ao menos naquele momento da discussão e do pensamento, estamos sendo dignos, verdadeiros, exercendo uma baita contra-lógica. Não vamos repetir o discurso "preferencial", porque ele nos diminui, nos massacra. Vamos seguir nosso caminho com afinco; nossa arma contra essa bestialidade binária massacrante deve ser a ironia, o conhecimento e as nossas próprias vidas, nosso bem-estar.
Bravo! Bravo!
Bom retorno!
Leia Hakim Bey.
E Bakunin. Talvez vc tenha maior escopo teórico pro seu niilismo.
e boa sorte.
João, na verdade não escrevi sobre MEU niilismo (já que não sou niilista e todos meus projetos pessoais estão ligados, de uma maneira ou de outra, à mudanças sociais ou de subjetividade), mas sobre condições de possibilidades geradoras de niilismo na sociedade contemporânea. De qualquer maneira, não percebo a saída em Bakunin (embora ele nos dê algum material para pensarmos e fazermos algo novo a partir dali). De qualquer forma, o “post” é mais como um pequeno sinal de alerta a respeito da situação em que vivemos.
um abraço
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